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Michel Zaidan

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O desafio de pensar o Brasil

Tarefa difícil que Lula terá de encarar pela frente, com um Congresso hostil e sedento de benesses e vantagens, em troca de votos e apoio parlamentar

Presidente Lula durante encontro com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em Brasília (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Disse uma vez um antropólogo que o Brasil não  era para  pensadores amadores, era um país complexo. Muitas foram as dialéticas propostas para entender o país. Desde a Dialética da feijoada até a Dialética da malandragem ou a malandragem pragmática. O Brasil, que já foi a terra de Jeca Tatu, Macunaíma, Gérson e Pelé, nunca foi inteligível à luz da teoria da modernização a lá  Max Weber, com sua ética protestante e o espírito do  capitalismo. 

Pensar o Brasil da perspectiva dionisíaca, da bioenergia  da Africanidade, não da modernidade ocidental, fria e calculista, abstêmia e acumulador de bens. Afinal, que país é esse?  Como diria Francelino Pereira. 

O nosso país já foi descrito como um misto de Bélgica e Índia. Havia esperanças  de que caminhasse para o lado da Bélgica e se afastasse da Índia. Curioso. A Índia se modernizou ao seu modo. E a Bélgica continuou sendo um pequeno país da União Europeia. 

E nós, como ficamos? Há de se convir que a pandemia e a precarização do trabalho contribuíram muito para o Brasil aprofundar o seu fosso social e aumentar a miséria. É um país rico e integrado à globalização,  mas com um enorme  contingente de miseráveis e trabalhadores precários. 

Além desse enorme passivo social, temos o descompasso da sua engenharia institucional, um modelo político  que só  acentua suas anomalias e perversões  sociais.

O que fazer? Num país que faz propaganda do agronegócio  enquanto milhões de pessoas passam fome e se busca criminalizar os movimentos sociais no Campo?

Dialética difícil essa. 

Mudança  de mentalidade, redesenho das instituições, redistribuição  de renda e políticas de emprego, mais investimentos em educação,  saúde, transporte, habitação,  tudo isso conta. Mas como investir mais no acanhado  desenho da âncora fiscal aprovada pelo Congresso que ameaça punir o governo com o aumento do gasto social e  que garante o lucro dos especuladores de títulos da dívida pública?

Tarefa difícil que Lula terá de encarar pela frente, com um Congresso hostil e sedento de benesses e vantagens, em troca de votos e apoio parlamentar.  O presidente nunca subestimou as dificuldades de governar em ambiente adverso. Tem prática de negociação. Mas está sentindo o peso da responsabilidade de cumprir suas promessas nesse ambiente fisiológico e pouco republicano.

Há  também o trabalho de contra hegemonia da mídia, desconstruindo a imagem do governo. A Record, a Gazeta, o SBT, a Band e a Rede Globo vêm contribuindo para este trabalho de sapa. Infelizmente as alianças e a herança bolsonarista ajudam muito nesse quesito. Muito fogo para apagar e pouco espaço para divulgar as boas iniciativas.

Cinco meses de governo dão para avaliar os passos dessa dialética complicada e difícil. Oxalá, o lado mais positivo  da gestão se sobreponha às denúncias e escândalos oriundos dos remanescentes do governo anterior e que Lula imprima sua marca definitiva ao país. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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