Racismo, novamente, e outros crimes de ódio
Foi com Djamila Ribeiro que aprendi que devo ser antirracista, e não apenas não ser racista. Com a passagem de mais um 13 de Maio, é reforçada a tônica dos efeitos do racismo estrutural aqui existente. A verdadeira história de todos nós precisa ser devidamente contada e ensinada nas escolas.
Racismo é crime e os constantes atos contra esportistas revelam o mais podre de nossa natureza. E esses são os casos mais notórios, envolvendo gente conhecida em jogos com grande número de espectadores. O racismo estrutural é o do dia a dia, invisível para quem não tem na pele a marca do preconceito. Sejamos antirracistas, denunciando todo e qualquer ato racista. Porém, algumas reivindicações de espaço necessitam ser avaliadas com o devido equilíbrio. Por exemplo, o clamor por uma mulher negra na Suprema Corte, que vem à baila na sucessão de Ricardo Lewandowski, é totalmente válido, mas atentemos para não repetir a excrescência de um Sergio Camargo, de triste e criminosa atuação em outro espaço, do qual se esperava ativismo em relação à dívida com os escravizados e descendentes.
O antissemitismo segue um paralelo ao racismo. Creio que a mesma postura antirracista deva acontecer com o antissemitismo, não bastando denunciá-lo, mas combatê-lo, ainda que tal mazela seja menos evidente em nosso país. Porém, os Diretores da Casa do Povo publicaram um artigo que me deixou confuso (“Papel(ão) do jornalismo”, Folha de S. Paulo, 27/4) em que denunciam o jornal por dar vitrine a uma atividade cultural controversa que, segundo eles, teve forte conotação antissemita. Se a intenção dos autores era dar novamente atenção ao tema, conseguiram. Trabalho bem feito! Porém, nesse caso, dizer que a reportagem do começo daquele mês tenha sido jocosa, pouco profunda e desrespeitosa, é forçar a barra, o que pode levar a um efeito contrário ao esperado. Fui ler a referida matéria de João Perassolo “Papelão”, publicada em 8/4, facilmente encontrada pelas ferramentas de busca, que aprofunda adequadamente a questão e os fatos, tanto sobre a Documenta (exposição alemã), quanto à oficina do grupo na oficina do MST, objeto da celeuma. Sem contar que o diretor artístico da Casa do Povo, Benjamin Seroussi, fora devidamente entrevistado naquela ocasião.
Por fim, outra dimensão do ódio moderno é aquela contra imigrantes e refugiados. Vivi na Alemanha no início dos anos 1990 e a questão da imigração turca era objeto de forte discussão, uns vendo os imigrantes como a necessária mão de obra barata usada para a reconstrução do país no pós-guerra, devendo ser acolhidos, outros, como invasores para se beneficiar do sistema social alemão. Hoje vemos a posição diversa desses turcos na Alemanha, bem como a dos candidatos na Turquia em relação a refugiados. Aqui nas Américas lembremos que todos os que não são descendentes de indígenas chegaram como refugiados, escravizados ou em busca de uma vida melhor. Deportação tem seus argumentos no tempo e no espaço, mas gastamos muita matéria e energia para tentar sua aparente impossível conciliação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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