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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Pinceladas econômicas aos olhos dos neofascistas liberais

Privatizar lucros e socializar prejuízos, essa é a tônica desse clamor de representantes da indústria

(Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação)

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A Folha insiste na cantilena do deus mercado em que contas públicas devem ser feitas pela matemática de armazém, como foi o editorial “Democracia e economia” (4/6). Somente a proposta de um novo arcabouço fiscal já trouxe novo ânimo à economia, mostrando que seu funcionamento é mais psicológico do que técnico. Além disso, o Brasil preza pelo social, mesmo em tempos bolsonarentos, com grande fração do orçamento público destinado à saúde – sem comparativo mundo afora –, educação, e ciência e tecnologia, lembrando que o empresário nacional tem comportamento de colônia, praticamente nada investindo, apenas comprando tecnologias do exterior ou se beneficiando do que as instituições públicas desenvolvem.

Mesmo assim, representantes da indústria continuam clamando por um “Estado de tamanho adequado”, ainda que acertando acerca das deficiências de pessoal em órgãos em que houve desmonte nos últimos anos. No entanto, ao falarem que o Estado deveria sair de áreas em que não consideram estratégicas apenas para poderem ser privatizadas – e há muito dinheiro envolvido aí – omitem que, quando em apuros, é ao Estado que recorrem para sanar suas dúvidas e más gestões. Privatizar lucros e socializar prejuízos, essa é a tônica desse clamor.

Um destaque pontual nessa questão, que mescla a política desses novos ricos com a economia, foi o artigo das representantes do Partido Novo Adriana Ventura e Maria Helena “Por que fomos contra a lei de equiparação salarial”. Elas têm o direito constitucional da posição política, mas tentar justificar o voto com falácias e sofismas seria hilário, se não fosse desonesto. A redundância das leis é norma no direito brasileiro, que procura fechar o cerco aos contumazes criminosos. A maior preocupação das autoras, talvez como retribuição aos votos que amealharam nas eleições, é a burocracia às empresas e não a qualidade e remuneração do trabalho. Além disso, contestam uma estatística do IBGE (salários das mulheres 22% menores), mas se baseiam nela para dizer que apenas um terço da diferença seria explicada por questão de gênero. Ao usarem a expressão “é difícil acreditar que haja uma diferença”, revelam o mundo paralelo em que vivem. Da próxima vez, também vou tentar submeter uma crônica de ficção para essa seção do famoso jornalão paulistano.

Até a extremamente contraditória entrevista do ainda senador Rogério Marinho (PL-RN), concedida a outro jornalão, em que critica os gastos governamentais atuais, cai na questão político-econômica, pois, até outro dia, era um dos demandantes de tal postura quando era da situação. Além disso, é emblemática a publicação da entrevista no dia em que seu mandato foi cassado pelo TRE-RN. A decisão deve ser revertida, mas a “narrativa” que ele usa para justificar posições confusas permanecerá.

Narrativas que são representadas por aquela maior montada contra o presidente Lula. Aquilo que parecia delírio torna-se límpido fato: a Lava Jato destruiu a construção civil no país. O livro de Emílio Odebrecht (Uma Guerra Contra o Brasil) é um contraponto àquele de Malu Gaspar (A Organização) que revirou sentenças de Moro&Cia, mas não quis ouvir o outro lado. Quiçá as palavras do empresário virem best seller tal qual o da jornalista para que, ao menos, possamos dar voz e vez à readequação daquelas sentenças.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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