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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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O silêncio de Mauro Cid fardado ajuda a dar o recado: à direita, volver

"O ir e vir de oficiais golpistas nas instalações ocupadas por Mauro Cid, nos dá mostras de que eles não desistiram", escreve a colunista Denise Assis

Tenente-coronel Mauro Cid (Foto: Pedro França/Agência Senado)

O tenente-coronel Mauro Cesar Cid, como já havia sido previsto, não falou. Chegou à comissão com sua farda impecável e seus galardões. A ordem para que envergasse o uniforme veio do Alto Comando do Exército. Aquele mesmo, que tolerou os acampamentos golpistas na frente do QG. Mauro Cid foi flagrado em várias fotos com a boca trancada e as bochechas cheias de ar. Ou seriam as palavras, que ele se esforçava para que não saíssem da boca?

Por decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal Carmem Lúcia, obteve o direito de permanecer calado e abusou do seu uso, se recusando até mesmo de responder a sua idade, quando perguntado pela deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ). Custa-se a crer tenha sido aluno brilhante, pois usou e abusou do termo “reintero”, quando deveria usar “reitero”, que tem o sentido de reforçar a sua posição. Ali ele não estava “inteirando” nada. Nem mesmo informação. A notícia de que foi orientado pelo Exército a vestir farda para o depoimento foi dada já no final da sessão, pela deputada Laura Carneiro (PSD-RJ).

Ao longo da sua prisão, Mauro Cid foi visitado por oficiais do Exército – conforme informações publicadas em O Globo – incluindo o general de brigada Alexandre Oliveira Cantanhede, ex-chefe da seção de pessoal do Batalhão de Polícia do Exército, onde Cid se encontra preso. Também o general Eduardo Pazuello e o general Julio Cesar Arruda, que foi Comandante do Exército brasileiro entre 30 de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023 passaram por lá. Recebeu, ainda, o assessor de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, familiares e, pasmem, Jean Lawand, de quem deveria se manter afastado, sob pena de ser suspeito de obstrução de Justiça. Não é esse o argumento para que se mantenha longe do seu pai, o general Lorena Cid?

A informação de que foi o EB quem recomendou o seu traje foi interpretado por muitos como um recado. E é. “Mauro Cid é um dos nossos”, quiseram dizer. A firmeza em se manter calado - embora em alguns momentos tenha tropeçado nas palavras, demonstrando tensão e nervosismo -, tem origem nos cânones militares. Entre os cinco princípios basilares dos quartéis está o “espírito de corpo”, o que significa: jamais delatar. Porém, em seu caso, pode ter sido o “trabalho” feito pelos oficiais que lá estiveram, a dar uma reforçada na sua atitude. Júlio Arruda e o ex-chefe do batalhão que o “hospeda”, por exemplo, podem ter feito um coach com Mauro Cid, relembrando as aulas na AMAN.

De quebra, para orientá-lo do quanto é necessário manter-se fiel à “famiglia”, foi que lá esteve o assessor de Bolsonaro, Wajgarten, o homem de Comunicação.

O depoimento de Mauro Cid se dá em um clima de mudança de cenário político. Desde a semana anterior à aprovação da reforma tributária, se observa há dois movimentos. Enquanto a mídia tradicional aplaude o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o centrão em construção, para 2026, por ter – aparentemente - se rebelado contra Bolsonaro, nas redes sociais há um refluxo de ódio, novamente com os malucos paramentados e a cara pintada de preto, com marchas marciais ao fundo e falas violentas.

Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro solta o apito de cachorro para reunir a matilha fascista, esbravejando impropérios e acusações absurdas contra os professores, acusando-os de levarem a juventude para o tráfico.

Os professores são uma classe sensível para o campo progressista, que os têm como base para a formação de crianças e jovens. E são o que são: profissionais da maior importância. A fala causou o esperado: revolta e reverberação. A intenção é reunir de volta os 25% de ultradireitistas que gravitam fiéis em torno do papai.

O tri-derrotado (perdeu as eleições, o direito a se candidatar e 20 votos do seu partido para a reforma tributária) precisa desses gritos para se manter com a cabeça fora d’água. Fraco e covarde, chora pelos cantos, sem abraçar a tarefa de animar o partido (PL) que paga a ele um bom salário para isso. Os gritos de “mito” parecem ser a sua criptonita. Enquanto isso, o ir e vir de oficiais golpistas nas instalações ocupadas por Mauro Cid, nos dá mostras de que eles não desistiram. Sonham em reorganizar e ampliar a margem dos 25% em torno de um nome que, ao contrário do que pensa a mídia, pode ser o de Tarcísio. Farão de tudo para engolfá-lo de novo para o reduto. E ele, com certa garantia de que terá apoio, voltará de bom grado de onde, ao que se sabe, nunca saiu: a ultradireita.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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