O preço do centro
Há forte pressão de Arthur Lira para aumentar o preço de seu pseudoapoio no Congresso. É um misto de blefe com ameaça e não se vislumbra para onde o governo Lula vai pender para evitar a armadilha.
A revista CartaCapital chamou a movimentação de guerra aberta. Talvez não esteja tão errada. Entre a movimentação ardilosa de Eduardo Cunha, que Dilma Rousseff muito bem peitou, e o assalto explícito de Arthur Lira, Lula está preferindo a cessão de direitos republicanos em troca da governabilidade. Tanto uma quanto outra estratégia são ruins, causando golpes, impeachment e derrotas legislativas. Mas é tudo fruto de uma constituição parlamentarista aprovada junto ao presidencialismo. E parece não haver interesse em mudar a lei maior nem o sistema de governo.
Vive-se um aparente “parlamentarismo sem freios”, o que traz discussão interessante e importante, pois lembremos que a Constituição Federal de 1988 foi construída em base parlamentarista, mas os constituintes não tiveram força política para aprovar o texto com esse sistema de governo, transferindo a decisão final para a população por meio do plebiscito. Com sua rejeição, o texto não foi alterado para acomodar o presidencialismo, ficando esse arremedo de poderes compartilhados com forte presença do Parlamento. Ao contrário, as modificações constitucionais foram em direção à maior força das Casas Legislativas. O sistema proporcional de eleição faz com que a soma dos votos dados a Deputados seja menor que 50%, ou seja, a população não se sente devidamente representada na Câmara. Fazer um outro arranjo, que se chame de semipresidencialismo ou outro nome, não parece a melhor alternativa. Fortalecer o presidencialismo, sim, mesmo que muito mais difícil e com alto custo.
Isso tudo porque na parte econômica as coisas estão razoavelmente bem. As correntes progressistas do governo precisam entender que não haverá ruptura econômica no curto prazo e o arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad é uma resposta adequada e possível em face de tudo o que foi destruído no Estado brasileiro. Não é porque agradou o mercado num primeiro momento que será danoso ao povo. São espasmos de parte a parte num ambiente fortemente sensível às flutuações políticas mundo afora.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: