O pêndulo chileno e a inflação argentina
"O relógio não para. O eleitor está impaciente", escreve a correspondente do 247 em Buenos Aires, Marcia Carmo
O presidente Gabriel Boric reconheceu, imediatamente, ainda na noite de domingo (7), a vitória da ultradireita reunida no Partido Republicano após a eleição dos 51 integrantes do Conselho Constituinte. São eles que vão escrever o novo projeto da primeira constituição em tempos democráticos no país. Boric pediu aos ‘republicanos’ que ‘não repitam’ o erro que a esquerda cometeu, sugerindo que é importante ouvir outros segmentos políticos da sociedade chilena. E não apenas seus fiéis seguidores.
O Partido Republicano é liderado por José Antonio Katz, que na eleição presidencial de dezembro de 2021 perdeu para Boric. Ou seja, há um ano e cinco meses, os chilenos elegeram a esquerda para o palácio presidencial La Moneda. No ano passado, 2022, a esquerda escreveu uma proposta de constituição que era o espelho do progressismo no país. Mas no plebiscito realizado em setembro, os chilenos rejeitaram o projeto. E como era previsto, nova eleição foi realizada para que um novo grupo, indicado pelos partidos políticos, escreva outra proposta de Carta Magna. A atual é de 1980, da época da ditadura de Pinochet. Após a votação de domingo (7), a extrema direita será decisiva na construção da nova Constituição do país de Pablo Neruda, de Michelle Bachelet e de Boric e tantos outros vinculados à esquerda chilena.
A bancada da direita contou com 56,5% dos votos dos eleitores chilenos – quando somada a votação do Partido Republicano (35,5%) e da direita tradicional Chile Seguro (21%). Kast e seus aliados eram contra a reforma da constituição pinochetista. Na campanha eleitoral, na disputa presidencial contra Boric, ele chegou a dizer que ‘se estivesse vivo, Pinochet’ votaria nele, Kast. A expectativa agora é se de fato o novo projeto de constituição manterá o espirito pinochetista da Carta Magna em vigor ou se dele sairão ideias ainda mais ultrapassadas, como comentam e temem aliados de Boric.
Na Argentina, nesta sexta-feira (12), o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) informou que a inflação de abril foi de 8,4%. Em doze meses, entre abril deste ano e abril do ano passado, o índice foi de 108,8%. Somente neste ano, o acumulado inflacionário é de 32%. A escalada de preços – em março a inflação foi de 7,7% - promete ser um conteúdo forte na eleição presidencial de outubro dste ano. Um dos possíveis presidenciáveis do governo seria o ministro da Economia, Sergio Massa. Mas seu desafio é mostrar, o quanto antes, que pode resolver esse problemão argentino.
Do outro lado dos Andes, no Chile, Boric reconheceu, naquele discurso de domingo (7), que os chilenos têm pressa nas demandas, como segurança pública. E ele afirmou, com detalhes, que tem agido para atender às necessidades do povo chileno. O relógio não para. O eleitor está impaciente. A esquerda é desafiada, e a direita tem gerado, no mínimo, desconcerto. A Argentina costuma ser vista como um pêndulo – mesmo dentro do peronismo. O Chile seguiu esse caminho pendular e surpreendeu.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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