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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O julgamento do bolsonarismo

O estranho pedido do advogado de Bolsonaro para que o TSE não trate os delitos como um embate entre civilização e barbárie

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Passou batida, como se fosse um apelo retórico irrelevante, a tese defendida pelo advogado de Bolsonaro no TSE na semana passada.

O que Tarcísio Vieira de Carvalho disse não foram apenas frases de efeito. O advogado apresentou o lastro da argumentação pela absolvição do seu cliente ao afirmar:

"Não está em julgamento, como quer se fazer crer, o bolsonarismo”.

E esclareceu que o objeto da ação no TSE era apenas a reunião de Bolsonaro com os embaixadores, em julho do ano passado, quando o sujeito pôs em dúvida o sistema eleitoral.

E o advogado arrematou:

"Não se está a arbitrar uma disputa sangrenta, imaginária, entre a civilização e a barbárie".

O defensor de Bolsonaro deu corda para a suposição de que o julgamento no TSE é parte disso mesmo, do enfrentamento do bolsonarismo como uma expressão da barbárie.

Foi o advogado quem trouxe à pauta, como ninguém havia feito antes e com tanta ênfase, o que os casos eleitorais de Bolsonaro podem amplificar mais adiante.

Claro que, indo em frente e alargando o raciocínio do advogado, o julgamento no TSE não está para o bolsonarismo como Nuremberg esteve para o nazismo.

Mas começa no exame dos delitos eleitorais o processo, para muito além de questões jurídicas, de defesa da civilização diante do avanço do novo fascismo na versão verde-amarela.

A morte política de Bolsonaro, se confirmada com a sua inelegibilidade, pode não significar, ainda, o fim da barbárie por ele liderada, mas é disso que precisamos falar.

O advogado correu o risco de quem se agarra ao arame farpado. Sua argumentação de que a reunião foi “franciscana” e apenas tratou do sistema eleitoral seria o razoável e o previsível.

Mas Vieira de Carvalho arriscou-se a levantar a suspeita de que o bolsonarismo, e não aquela reuniãozinha, está em julgamento.

No contexto do que passa a acontecer, seria o bolsonarismo, em todas as suas formas, que se encaminharia para o grande júri aguardado desde antes da eleição do ano passado. Seria a hora da reparação.

Ele está certo. Não há como ver Bolsonaro isoladamente, como se fosse uma figura apartada das crueldades e dos crimes que produziu. E os ilícitos eleitorais não irão encerrar a caracterização e o enquadramento dos seus desatinos.

Falta examinar a barbárie pela abordagem criminal. O desfecho do que acontecerá no TSE abrirá a perspectiva de que todo o resto deixa de ser represado pelo sistema de Justiça, como aconteceu durante quatro anos.

Discutir o sistema eleitoral "não deveria ser tabu", segundo o advogado de Bolsonaro. Convocar embaixadores para tal debate, muito menos.

Nem continuar alardeando, depois da reunião, que a eleição poderia, de novo, ser fraudada.

Tudo, para a defesa, é considerado normal e sem relação nenhuma com um confronto entre civilização e barbárie, ou entre democracia e golpismo.

Mas essa semana, com a condenação de Bolsonaro pelo TSE, o que irá se decidir é muito mais do que a ilegalidade de uma fala numa reunião com embaixadores.

Será a condenação de alguém envolvido na articulação de um golpe. O advogado anteviu o que irá acontecer.

O que o TSE deflagra e deve se estender a todos os desmandos de Bolsonaro e seus cúmplices, entre os quais a matança da pandemia, é mesmo o julgamento dos crimes sangrentos do bolsonarismo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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