O golpe está em marcha! E não é terrorismo
Do Val sabe que fará apenas marola, mas Lula e seu entorno terão que parar para novamente arrumar a casa e conter mais uma crise com os militares. Esse é o jogo
Não houve um golpe! Está havendo. E isto não é terrorismo. É teoria amplamente divulgada no mundo moderno. Estamos na penúltima fase da “revolução colorida”, quando se tenta que as instituições “ajudem o movimento a ganhar tração e atenção”. Se entendemos que há um outro tipo de guerra sendo travado, nos preparamos para a contraofensiva, é o que nos ensina o “manual” de Andrew Koribko. Por isto é imprescindível que não se divorcie a ofensiva do senador Marcos Do Val (Podemos-ES), publicando o informe da Abin Alterado – aliando verdades e mentiras – no seu Twitter e desencadeando nova crise política, dos diálogos e revelações sobre 8 de janeiro.
É, como eu já disse, um “Bolero de Ravel”. Uma marcha rumo à desestabilização do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Aí reside o ponto. Os fascistas e bolsonaristas renhidos sabem que não irão conseguir derrubar o governo, mas a tática se concentra em não o deixar trabalhar. Há boas notícias na economia? O ministro Fernando Haddad está dando certo? Ganhou nota boa? Vamos atrapalhar. Mirando no ministro Alexandre de Moraes e no ministro Dino, Marcos Duval parte para o enfrentamento e a afronta, e o tumulto está feito. Essa era a meta.
Não por acaso, o presidente agora exige “uma limpa” no governo. Do Val sabe que fará apenas marola, mas Lula e o seu entorno terão que parar para novamente arrumar a casa e conter mais uma crise com os militares. Esse é o jogo.
Quando o tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordem de Bolsonaro) foi depor e ficou em silêncio, limitando-se a entregar o celular e liberar a senha, eu escrevi aqui, no 247, que a conversa seria eloquente. E tem sido. Os diálogos revelados entre ele e o coronel Jean Lawand, são a concretude de que Bolsonaro estava tramando um golpe, mas deixou para o seu “faz-tudo” operar. Com toda a teoria pronta, e reescrita do legado dos militares do golpe de 1964 – a minuta encontrada com Anderson Torres foi baseada na redigida para a formação do “Comando Supremo da Revolução”, do Ato Institucional nº 1, imediatamente após o 1º de abril de 1964. E, todo o desdobramento descrito – o documento encontrado no celular do Mauro Cid, o passo -a-passo do golpe -, é o mesmo roteiro que se seguiu, com alguma modernização. As providências estão todas lá, apenas repaginadas. O documento é de origem militar.
Assim como é de origem militar o senador Do Val, que tem entre as suas condecorações, a “Medalha do Pacificador” (leia-se: treinado para movimentos contraguerrilha e repressão) e cursos nos EUA. Embora sem concluí-los e obter diplomas, mas treinado, sim.
Jean Lawland Junior, gerente de programações estratégicas da subchefia do Alto Comando, e não ex-subchefe do Estado maior – cargo ocupado apenas pelos que têm a quarta estrela de general – queria botar o bloco na rua antes da posse de Lula. Afinal, estava tudo pronto.
Porém, não encontrou respaldo no Alto Comando – com exceção do general Edson Skora Rostsy (subcomandante de Operações Terrestres) - por algumas razões: os EUA já tinham se posicionado contra e eles seguem à risca as orientações estadunidenses; b) não havia apoio da mídia e da parcela significativa do empresariado, que empenhou apoio à democracia; c) porque aos olhos do Alto Comando Bolsonaro não é confiável. E, como bem pontuou, nesta semana o general Santos Cruz, é covarde e não encarou. (General Santos Cruz rompe silêncio e chama Bolsonaro de 'fujão' e 'covarde' - Denise Assis - Brasil 247). Preferiu fugir. E deixou que a festa da “Selma” acontecesse sem ele, no 8 de janeiro.
Agora que o “passo-a-passo” de Mauro Cid veio a público, ficou mais fácil entender os atos daquele domingo e as funções de cada um. Por que tudo funcionou por música? Ao general Arruda, comandante do 1º Exército, tocou manter os acampamentos, onde ficaram alojados os Kids Pretos, diluído entre os “inocentes úteis”. O esquema traçado pelo ministro Flávio Dino, mantendo o bloqueio da Praça dos Três Poderes, foi quebrado. E por ninguém menos que o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF). Coube a ele abrir a praça para a turba escoltada por sua PM, passar.
Junto com ela, vinham os Kids Pretos – Forças Especiais do Exército Brasileiro -, que precisavam chegar ao gramado, onde estavam escondidos as “granadas bailarinas”, de uso exclusivo dessa força, e assim ganhar as portas do Planalto e demais prédios dos poderes.
No Planalto, o coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora garantiu a ação deles, espantando quem os combatessem com as tais granadas, e a fuga: “Esse não! Esses são nossos”, vimos ele gritar, dando fuga ao “Especiais”. E, por fim, festa acabada, o general Arruda protegeu o alojamento onde se encontravam os Kids Pretos, não permitindo que o interventor Ricardo Capelli entrasse para prender ninguém enquanto os “Especiais” não juntavam os equipamentos e davam no pé, antes de serem pegos. Para isto, até deslocou blindados até a porta do Comando, e os apontou para Capelli e a PM, em guarda.
Qualquer discurso diferente disto, só vai ter palco na CPMI, chamada pela oposição, cujos trabalhos agora ficam totalmente prejudicados, pois têm no colegiado dois investigados, como bem vem apontando o deputado Rogério Corrêa (PT-MG). O senador Marco Do Val, que é elemento e chave no golpe e o deputado André Fernandes, do PL, um incentivador das ações do dia 8. Essa participação ainda resta provar, mas a cada dia a tarefa fica mais fácil, diante da quantidade de evidências e gritos vindos dos celulares apreendidos, é questão de tempo.
Por fim, do lado do governo, Lula – que assistiu ontem na reunião ministerial a apresentação de menos de 10 minutos, do ministro da Defesa José Múcio, que sequer mencionou os últimos acontecimentos -, não poderá demiti-lo. Está sem canais confiáveis no meio militar (ainda mais depois da saída do general GDias). Há quem jure que viu o ministro Mucio sair da reunião assobiando: “meu amigo/ se ajeite comigo/ e dê graças a Deus...”
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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