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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Lula preferiu assessor de confiança a ter ajudante de ordem militar

O presidente preferiu contar com uma equipe de assessores que já o acompanha, cujos nomes não podem, por questão de segurança, vir a público

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia em Brasília - 27/06/2023 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

 Por cautela ou apenas porque optou por um modelo diferenciado de coordenação de governo, o presidente Lula escolheu não ter em sua cola a figura do ajudante de ordens, papel que no governo anterior foi desempenhado com “excesso de zelo”, vamos classificar assim, pelo tenente coronel Mauro Cid.  

 O oficial não só cuidou da agenda, dos pagamentos de contas pessoais, das correspondências e compromissos, de Bolsonaro, como também em seu poder foram encontrados cartões de vacina falsificados, em nome do ex-presidente, de sua filha e dos assessores que o acompanharam em sua fuga para o exterior, depois da derrota e dois dias antes de encerrar o mandato.

  O presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu contar com uma equipe de assessores que já o acompanha, cujos nomes não podem, por questão de segurança, vir a público. Na transição, os que estavam diretamente com ele eram: Marco Aurélio Santana Ribeiro, conhecido da militância como Marcola e Claudia Troiano.

 Marcola é assessor do PT, sociólogo e mestre em ciência política. Era a ligação de Lula com o mundo exterior, enquanto esteve preso. Sua função era lhe entregar diariamente um pendrive com resumo das notícias, livros e cartas. O presidente contava também, em seu gabinete, com o apoio de Claudia Troiano, uma das auxiliares e lideranças que permaneceu cuidando da correspondência direcionada ao Instituto Lula, durante todo o tempo de sua permanência na PF. Agora, no período da presidência, Marcola foi para a chefia de gabinete e Claudia é sua secretária.

 Ao se sentar na terça-feira, (11/07) à mesa dos depoimentos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito - CPMI -, na condição de investigado, o tenente coronel Mauro Cid, envergando a farda para ocasiões formais, se apressou em dizer na abertura dos trabalhos, para os deputados que o iriam interrogar, que em 2018 havia sido selecionado para participar de um curso de Estado Maior no Exército americano. Entretanto, explicou, os planos que o colocariam a um passo do generalato foram interrompidos, por ter sido “designado pelo então comandante do Exército para assumir a função de chefe da ajudância de ordem da presidência da República”. E, em tom pomposo, acrescentou: “é importante destacar que essa função é exclusivamente de natureza militar”.

 E não estava de todo errado, mas contou apenas meia verdade. No seu caso específico, embora descarte qualquer influência política, sabe-se que pesaram as ligações de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, companheiro de AMAN, de Bolsonaro e, principalmente, o fato de ser o “garoto de ouro” do então comandante do Exército, o general Eduardo Villas Boas.

  De acordo com a Lei nº 1.608, de 22 de maio de 1952, que alterou o art. 59, do Decreto-lei número 9.120, de 2 de abril de 1946, referente à organização dos quadros efetivos do Exército, era, sim, prerrogativa do Estado Maior do Exército, a escolha dos ajudantes de ordem.  

 “Pelo Art. 1º desta lei, “o presidente da República, o ministro da Guerra, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o chefe do Estado Maior do Exército, os comandantes das zonas militares e o chefe do Departamento Geral de Administração do Ministério da Guerra, cada um dispõe de dois ajudantes de ordens. Cada um dos demais generais da ativa, quando em função de caráter essencialmente militar, ou enquanto aguarda comissão, terá um ajudante de ordens”.

 E, ainda, regulamentava o tempo de permanência na função: “De acordo com o inciso “§ 4º cada oficial pode permanecer como ajudante de ordens ou adjunto somente até o prazo de três anos, consecutivos ou não, excetuados os que servirem junto ao Presidente da República, para os quais o tempo de permanência na função poderá corresponder ao período presidencial”, ou seja, o tamanho do mandato.

 O general Eduardo Villas Boas foi o Comandante do Exército Brasileiro de 5 de fevereiro de 2015 até 11 de janeiro de 2019. Tempo suficiente para indicar o filho do amigo dileto, Cesar Lourena Cid, para o cargo de ajudante de ordens do então recém-eleito presidente da República, Jair Bolsonaro.  

 Mauro Cid e Villas Boas continuaram interagindo, pois o general foi designado assessor do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), durante o governo Bolsonaro de 2019, cargo que ocupou até 2022.  

 Os vínculos de Mauro Cid com a caserna, a proteção que notoriamente recebeu do Alto Comando do Exército, que o mandou fardado ao auditório da CPMI, como se a demonstrar que ele continua um dos seus, ainda que respondendo a inúmeros processos – o que deixa mal a instituição, que já entrou ali enxovalhada pelos mal explicados atos golpistas do 8 de janeiro -, nos leva a considerar que, se um ajudante de ordens está indicado para o cargo pelas mãos dos militares, o cargo significa que eles estão dentro do poder, com olhos e ouvidos atentos e a tudo monitorando.

 Sábia decisão a do Lula, a de cercar-se de pessoas da sua mais estrita confiança, para transitar no gabinete e cuidar das questões do seu entorno. Enquanto isso, segue a dúvida: quantos e quais eram os generais golpistas? De antemão, podemos nos perguntar:  por que o ex-comandante do Exército, Júlio Arruda, se recusou a retirar a nomeação do tenente-coronel Cid para comandar o 1° BAC (Batalhão de Ações de Comandos) em Goiânia (GO), a partir de fevereiro de 2023, um pedido do recém-empossado presidente Lula? O que se sabe é que esse é o batalhão de operações especiais destinado a entrar em Brasília – ou onde for designado -, para missões estratégicas, pois contam com treinamento guerras não convencionais, e operações contra o terror. Não falta alguém nos depoimentos da CPMI?  

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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