Lula não quer ser Maduro

Em seu terceiro mandato, Lula resolveu investir na imagem internacional, dele e do Brasil. O que é fácil verificar pelo número de viagens ao exterior. 

De mediar a guerra da Rússia contra a Ucrânia ele já desistiu. Viu que era uma fria. Qualquer posição que tomasse - e mesmo nenhuma - seria alvo de críticas de um dos países. E não resolveria coisa alguma. Estava gastando munição diplomática à toa.

A outra tarefa internacional que preconizou está em curso. É liderar a América Latina. Ou seja: tirar os países há séculos explorados pelos Estados Unidos da influência de Biden. Isso é que explica, a meu ver, suas declarações sobre a democracia relativa na Venezuela. 

Não vou conjecturar se ele sabe ou não que o regime daquele país é autoritário. Deve saber. Mas então por que não o condena se sempre foi um democrata? E ainda em janeiro enfrentou um golpe que almejava instalar um regime autoritário no Brasil? 

Aí é que tá. Para se consolidar como líder latino-americano ele precisa manter os mandatários desses países unidos em torno dele. Por isso não pode criticá-los. Sejam de direita ou de esquerda. Sejam democracias ou ditaduras. 

E também não pode adotar o mesmo discurso de Biden se a intenção é minar a influência da Casa Branca. Biden é a favor? Lula tem que ser contra.

A candidata à sucessão de Maduro pode se esgoelar quanto quiser que Lula não vai dar bola para ela. Primeiro, porque já está fora do jogo. Segundo, porque tudo o que ele não quer é que a oposição ganhe de Maduro.

Qualquer vitorioso da oposição será aliado de Washington, o que vai enfraquecer a influência de Lula - e, portanto, do Brasil - na Venezuela. Para Lula e para o Brasil é melhor seguir com Maduro, o único aliado de Lula e do Brasil dentre os postulantes às eleições venezuelanas de 2024.

Isso não significa que Lula quer ser Maduro, nem adotar no Brasil o mesmo regime da Venezuela. Cada país na sua.