Lula ajuda a entender uma lição fundamental da História
Na Bahia, Lula contribuiu para lembrar heróis que sobrevivem fora dos livros e cerimônias oficiais
Ao participar dos festejos de 2 de junho em Salvador, Lula encarou uma tarefa essencial no cargo que ocupa pela terceira vez.
Como presidente da República, ele tem a obrigação de mostrar aos brasileiros e brasileiras do século XXI que a história de seu país precisa ser conhecida em sua integridade, sob o risco de servir para a falsificação da memória e uma lamentável manipulação ideológica.
É assim com a história da independência do país, até hoje escrita como um conto de carochinha que não respeita os fatos nem os enredos, com a finalidade de embelezar o papel da elite portuguesa e seus aliados locais, em prejuízo de lideranças que tiveram um papel decisivo na luta pela emancipação e deixaram uma mensagem de verdadeira independência e compromisso com as necessidades da maioria da população local.
Como sempre acontece nos processos de falsificação da história, o resultado final alimenta o desconhecimentos dos fatos e conflitos políticos da 200 anos atrás, num processo que ao longo de dois séculos permitiu a construção de uma lenda histórica de grande serventia para justificar a manutenção de uma ordem, baseada na desigualdade e na opressão -- a noção de que o processo brasileiro se fez às costas do povo, na conciliação e o conchavo entre as elites.
O 2 de julho, que Lula foi comemorar em Salvador, celebra a expulsão dos portugueses do Estado em 1823, episódio ocorrido menos de um ano depois da cena de Pedro no Ipiranga. Não era um caso isolado.
Entre 1817 e 1824, a então Província de Pernambuco, outro grande polo econômico do país, com peso inegável nos destinos das antigas Terras de Santa Cruz, viveu um processo revolucionário de longa duração. Ali foram projetadas lideranças como Frei Caneca, Cipriano Barata e vários outros, atacados a sangue e fogo pelos canhões do Império Britânico, que, após independência das colônias da América do Norte, construía seu domínio sobre a fatia Sul do continente.
Num processo que iria se repetir pelos dois séculos seguintes, o ouro, a prata e os metais preciosos extraídos das minas coloniais eram utilizados para pagar pelos serviços de guerra que mantinham a dominação sobre o país.
Ao homenagear um evento dessa envergadura, que diz respeito a um ponto essencial na história de um povo como a soberania, Lula contribuiu para lembrar heróis que sobrevivem fora dos livros e cerimônias oficiais.
Fez sua parte para dar conta de uma reconhecida verdade política conhecida no mundo inteiro -- a noção de que os povos que desconhecem sua história estão condenados a repetí-la.
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