José Celso Martinez partiu como quem encena
Seu fim, embora extremamente doloroso, foi um desfecho à moda José Celso Martinez
José Celso Martinez partiu aos 86 anos, engolfado por um dos elementos (o fogo) sobre os quais tanto falou, como em “Os Sertões”, em que discorre sobre o nascimento da terra esturricada, que pariu nordestinos, antes de tudo os fortes.
Leva consigo as inquietudes desse mundo que o fez frenético.
Estar ao lado de José Celso em qualquer ambiente era ser eclipsado por sua figura esvoaçante, cênica. José Celso falava com o corpo, com as mãos e com a cabeleira, que embora parca se fazia esvoaçante, revolta como o que dizia. Aonde chegasse, quem chegava era o espetáculo, o gestual, a verve, sempre disposto a dar voltas no pensamento.
Impossível passar despercebido, com suas vestes extravagantes, echarpes, colares étnicos, e braços enormes, que se abriam para complementar o discurso.
Eventualmente, de branco, de linho, de lenços. José Celso ocupava espaços e tinha consigo a inventividade.
Dessem a ele a palavra e ele logo a transformava em um espetáculo, a discorrer sobre a situação em si, o que foi, o que viria. José Celso foi cena. Foi cênico. Foi cínico. Quando precisou, ao enfrentar a especulação imobiliária que ameaçava o seu fazer teatro.
Morreu em atividade. Escrevia as suas memórias, provavelmente consumidas pelas chamas. Escrevia um texto teatral. Não. Encenava um texto teatral. A própria morte. Seu fim, embora extremamente doloroso, foi um desfecho à moda José Celso Martinez. Ele não partiria em um leito de hospital, ou tendo um enfarte na fila do banco. José Celso Martinez tinha a chama do espetáculo. E foi assim que partiu, cênico.
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