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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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E se Bolsonaro e os manezões não pegarem cadeia?

"O momento pós-condenação pelo TSE lança dúvidas sobre a capacidade do sistema de Justiça de punir toda a estrutura do fascismo", avalia Moisés Mendes

Jair Bolsoanro e ato golpista em Brasília (Foto: REUTERS/Carla Carniel | Joédson Alves/Agencia Brasil)

Ainda há 15 processos contra Bolsonaro na esfera eleitoral, mas ele já está condenado como político e ficará inelegível até 2030. É muito e também parece pouco.

Falta condená-lo como criminoso. O julgamento dos outros delitos eleitorais, também graves, perde impacto. É amplificado a partir de agora o sentimento de que ainda falta pegar o Bolsonaro envolvido em crimes.

Condená-lo e prendê-lo. É agora que a democracia, e não só as esquerdas, começam a experimentar uma sequência de dúvidas bem incômodas.

É possível que Bolsonaro não seja preso, apesar das dúzias de crimes graves cometidos antes e depois de chegar ao poder?

Antes de ser condenado, é quase impossível que seja encarcerado. Depois de uma condenação, pode ser improvável?

Mais perguntas. É razoável que auxiliares estejam presos, por envolvimento com o golpe, e que o chefe consiga escapar de uma prisão porque não deixou rastros como Mauro Cid e Anderson Torres deixaram?

Um alargamento dessa dúvida inclui outros personagens. Podemos começar a pensar que a capacidade de contenção do sistema de Justiça talvez se esgote ainda esse ano?

Que MP e Judiciário não terão fôlego para enquadrar os idealizadores civis e fardados, os executores ainda encobertos e os grandes financiadores da tentativa de golpe?

A prisão tem uma força simbólica para muito além da sensação de punição e de reparação. Enxergar Bolsonaro na prisão não é uma aspiração desprezível.

Mas se, além de não serem presos, ele os seus grandões não forem nem mesmo punidos? E se os militares de alta patente escaparem?

E os financiadores ricos? E os tios milionários que, depois da eleição, foram fazer discursos em churrascarias de beira de estrada pregando o golpe?

Bolsonaro tem um capital político com 58 milhões de votos e mesmo assim foi contido. O sistema de Justiça vai conseguir conter os criminosos sem voto, mas com poder militar?

E os cúmplices de Bolsonaro com poderio econômico, que se protegem em argumentos esdrúxulos já aceitos até pela Justiça?

É o pretexto de que, se forem punidos por qualquer delito que os tire do jogo da economia, mesmo que joguem sujo, toda uma cadeia produtiva de fornecedores e similares poderá estar ameaçada.

Além dos empregos perdidos, haveria danos à autoestima de cidades inteiras que dependem de empresários manezões fascistas e golpistas.

É o grande desafio pós-inelegibilidade. Condenações e reparações terão efeitos parciais, no julgamento do conjunto do fascismo, e não só de Bolsonaro, se não tiverem como complemento a força real, concreta e exemplar de uma prisão.

É assim em qualquer área em que a Justiça seja convocada a intervir. Bolsonaro e os golpistas que a ele se aliaram podem se livrar da tatuagem de presidiários, se o esforço para pegá-los perder ímpeto a partir de agora?

A condenação de Bolsonaro e de seus comparsas na área criminal, contando os roubos, o vampirismo da vacina, a matança da pandemia, a dinheirama que financiou as milícias digitais e mais os contrabandos de joias e o golpe, será pela metade se não tiver cadeia. Mas não cadeia só por uma semana.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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