Depois da tempestade vem o furacão
"São as ações penais e as prováveis condenações que mais preocupam o ex-presidente, que nunca escondeu seu pavor de vir a ser preso", diz Florestan Fernandes Jr
No próximo dia 22 de junho, o Tribunal Superior Eleitoral decidirá se Bolsonaro ficará ou não inelegível. A AIJE (ação de investigação judicial eleitoral) foi proposta pelo PDT, apontando abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O fato apontado na ação é a "celebre" reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022. Naquela ocasião, o então presidente e pré-candidato, Jair Bolsonaro, em um espetáculo grotesco, convocou embaixadores para atacar as instituições do próprio país, repetindo para aquela plateia sua cantilena: de que as eleições poderiam ser fraudadas, pois o processo eleitoral não seria confiável. Tudo isto, evidentemente, sem provas.
A reunião (ou circo de horrores) ocorreu no Palácio da Alvorada e foi transmitida pela TV Brasil.
Quanto ao estado do processo no TSE, o voto do relator, ministro Benedito Gonçalves, tem cerca de 460 páginas e foi distribuído aos demais ministros que compõem a Corte eleitoral na última quarta-feira (7/06). Mesmo com toda a antecedência na entrega do voto, proporcionando aos julgadores tempo para leitura e apreciação, o julgamento pode ser atrasado com um pedido de vista, provavelmente do ministro Kassio Nunes, aquele com quem Bolsonaro se jactava dizer que bebia tubaína. Ainda que haja um "oportuno" pedido de vista, não será de grande valia e muito menos poderá mudar o destino de Bolsonaro. Explico: no passado, o pedido de vista de um processo poderia garantir um bom tempo de tranquilidade ao provável condenado. Não mais. Hoje, o TSE limita o prazo de vista em 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. Ou seja, hoje um pedido de vista pode reter um processo por no máximo 60 dias.
Portanto, um eventual pedido de vista, agora, serviria apenas para dar um pequeno folego a Bolsonaro, já que na verdade todos sabem que o ex-presidente vai se dar mal nesse processo. Meu palpite é o de que Bolsonaro será condenado e ficará inelegível. Quanto ao placar da votação, provavelmente por 6x1 ou, no máximo, 5x2. Os que podem votar a favor dele são o Kassio Nunes Marques (que ainda parece ter fidelidade canina a Bolsonaro) e o Ministro Raul Araújo Filho.
Hoje, Bolsonaro está muito fragilizado com tudo a que tem sido exposto, pois não pode mais contar com sigilo de 100 anos. Seus correligionários no PL já contam com a inelegibilidade, inclusive tentam desenhar o próprio xadrez político sem a presença de Bolsonaro. Vivem inventando possíveis substitutos e Valdemar da Costa Neto pretende usar Bolsonaro para eleger prefeitos ano que vem. Quanto aos humores e temores de Bolsonaro, seu maior dilema são as implicações penais de todos os seus mal-feitos. São as ações penais e as prováveis condenações que mais preocupam o ex-presidente, que nunca escondeu seu pavor de vir a ser preso. Seu entorno tem como prioridade evitar que processos criminais levem a consequências ainda maiores, como a tão temida prisão. É perceptível a mudança de comportamento de Bolsonaro, que se mostra mais contido, pouco fala nas manifestações. Sabe que o cerco está se fechando e os processos vão se avolumando, parece certo que depois da inelegibilidade, se seguirão novos revezes (a justa paga), como a condenação criminal que o leve para a prisão. Desdizendo o provérbio, no caso de Bolsonaro: depois da tempestade vem o furacão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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