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Leonardo Boff

Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996, Dabar, México 1996

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Como Deus surge dentro da nova visão do universo

Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência

Galáxia (Foto: Reuters)

 Esta questão de Deus dentro da moderna visão do mundo (cosmogênese) surge quando nos interrogamos: o que havia antes do antes e antes  do big-bang? Quem deu o impulso inicial para  a aparição daquele pontozinho,menor que a cabeça de um alfinete que depois explodiu? Quem  sustenta o universo como um todo para continuar a existir e a se expandir bem como cada um dos seres nele exsistentes, o ser humano incluido?  

 O nada? Mas do nada nunca vem  nada. Se apesar disso apareceram seres é sinal de que Alguém ou Algo os chamou à existência e os sustenta permanentemente.  

 O que podemos sensatamente dizer sem logo formular uma resposta teológica, é: antes do big bang existia o Incognoscível e vigorava o Mistério. Sobre o Mistério e o  Incognoscível, por definição, não se pode dizer literalmente nada. Por sua natureza, o Mistério e o Incognoscível são antes das palavras, antes da energia, da matéria, do espaço, do tempo e do pensamento.

 Ora, ocorre que o  Mistério e o Incognoscível são  precisamente os nomes pelos quais as religiões, também o judeo-cristianismo, significam Deus. Deus é sempre Mistério e Incognoscível. Diante dele mais vale o silêncio que a palavra. Apesar disso, Ele pode ser  intuido pela razão reverente e sentido pelo coração inflamado. Seguindo Pascal diria: crer em Deus não é pensar Deus mas senti-lo a partir da totalidade de nosso ser. Ele emerge como uma Presença que enche o universo, se mostra como entusiasmo dentro de nós (em grego: ter um Deus dentro) e faz surgir em nós o sentimento de grandeza, de majestade, de respeito e de veneração. Essa percepção é típica dos seres humanos. Ela é inegável, pouco importa se alguém é religioso ou não.

 Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência. Naturalmente nos surgem as perguntas:  

 Quem fez tudo isso? Quem se esconde atrás da Via-Lactea e comanda a expansão do universo ainda em curso? Em nossos escritórios refrigerados ou entre quatro paredes brancas de uma sala de aula ou numa roda de conversa solta, podemos dizer qualquer coisa e duvidar de tudo. Mas inseridos na complexidade da natureza e imbuídos de sua beleza, não podemos calar. É  impossível desprezar o irromper da aurora, ficar indiferentes diante do desabrochar de uma flor ou não quedar-se pasmados ao contemplar uma criança recém-nascida. Ela nos convence de que, sempre que nasce uma criança, Deus ainda acredita na humanidade. Quase que espontaneamente dizemos: foi Deus  quem colocou tudo em marcha e é Deus que tudo sustenta. Ele é a Fonte originária e o Abismo alimentador de tudo, como dizem alguns cosmólogos.Eu diria: Ele é aquele Ser que faz ser todos os seres.

 Outra questão importante vem simultaneamente suscitada: por que exatamente existe este  universo e não outro  e nós somos colocados nele? Que Deus quis expressar com a criação? Responder a isso não é preocupação apenas da consciência religiosa, mas da própria ciência.  

 Sirva de ilustração Stephen Hawking, um dos maioress físicos e matemáticos, em seu conhecido livro Breve história do tempo (1992): “Se encontrarmos a resposta  de por que nós e o universo existimos, teremos o triunfo definitivo da razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus”(p. 238).  Ocorre que até hoje os cientistas e sábios estão ainda  se interrogando e buscando o desígnio escondido de Deus.

 As religiões e o judeo-cristianismo ousaram uma resposta, dando,com reverência, um nome ao Mistério chamando-o por mil nomes, todos insuficientes: Javé, Alá, Tao, Olorum e principalmente Deus.  

 O universo e toda a criação constituem um como que espelho no qual Deus mesmo se vê a si mesmo. São expansão de seu amor, pois quis companheiros e companheiras junto de si.Ele não é solidão, mas comunhão dos divinos Três – Pai,Filho,Espírito Santo – e quer incluir nesta comunhão toda natureza e o homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança.

 Dizendo isso, descansa o nosso cansado perguntar mas  face ao Minstério de Deus e de todas as coisas, continua o nosso perguntar, sempre aberto a novas respostas.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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