Com ministro Múcio na Defesa, Mauro Cid foi instrutor em encontro dos exércitos do Brasil e dos EUA
Se a cúpula do Exército tivesse compromisso real com a legalidade, Mauro Cid e outros tantos militares já teriam sido expulsos do Exército brasileiro
O tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que desempenhava desde funções comezinhas, como sacar dinheiro do cartão corporativo da Presidência da República para pagar gastos da primeira-miliciana Michele Bolsonaro; até missões relevantes, como organizar um golpe de Estado, é alvo de inquéritos policiais pelo menos desde janeiro passado.
Apesar disso, no entanto, e das sucessivas denúncias de crimes graves que foram se empilhando contra ele, não consta que o Exército tenha aberto procedimentos de investigação a respeito.
Se a cúpula do Exército tivesse compromisso real com a legalidade, o profissionalismo e com a devida subordinação militar ao poder civil, Mauro Cid e outros tantos militares já teriam sido expulsos do Exército brasileiro, e muitos deles já estariam cumprindo pena de prisão.
Mas, ao contrário disso, em janeiro passado Mauro Cid – do mesmo modo como aconteceu com outros colegas de farda seus em conflito com a Lei – não só não foi afastado, como foi promovido e continuou desempenhando funções administrativas no Exército, como se nada tivesse acontecido.
O general Júlio Arruda inclusive foi demitido do comando do Exército pelo presidente Lula porque se recusou a cancelar a designação de Mauro Cid para o comando do poderosíssimo 1º Batalhão de Ações e Comandos, sediado em Goiânia, que “tem como missão realizar ações de captura, resgate, eliminação e interdição de alvos compensadores do ponto de vista estratégico, operacional ou tático, situados em área hostil ou sob o controle do inimigo, em tempo de crise ou conflito armado, visando contribuir com a consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais ou militares”.
E, já sob o comando atual do general Tomás Paiva, o tenente coronel Mauro Cid foi lotado no COTER – Comando de Operações Terrestres, sediado no QG do Exército, em Brasília, que é comandando pelo general hiper-bolsonarista Cals Theophilo Gaspar de Oliveira e que “tem por missão orientar e coordenar o preparo e o emprego da Força Terrestre, bem como elaborar e manter atualizada a Doutrina Militar Terrestre no nível e do Estado-Maior do Exército”.
Apesar de estar implicado em diversos ilícitos penais e ser investigado em vários inquéritos policiais, de 9 a 14 de abril passado Mauro Cid foi distinguido pelo ministério da Defesa para participar da 3ª Reunião de Coordenação do Exercício CORE 23, “a Master Scenario Event List (MSEL), evento que teve por finalidade coordenar as principais atividades” dos exércitos do Brasil e dos EUA.
O CORE 23 simulou problemas “a serem enfrentados por ambas as tropas, consistindo de situações e dilemas que irão exigir o trabalho integrado dos representantes de ambos os países, aumentado a interoperabilidade entre os Exércitos Brasileiro e Americano no ambiente de selva”.
No motivo da viagem [portal da transparência], consta que a participação de Mauro Cid seria para “orientar e coordenar o preparo da Força Terrestre”.
Cerca de três semanas depois do evento em Belém, Mauro Cid, que era investigado por lavagem de dinheiro, além de outros crimes, foi preso preventivamente pela Polícia Federal sob a acusação de falsificar carteiras de vacinação do Bolsonaro, dele próprio, de familiares de ambos e de outros elementos da matilha que acompanharam o miliciano em Miami/EUA.
É no mínimo discutível a conduta do ministro da Defesa José Múcio Monteiro, que a despeito de todos motivos conhecidos, manteve este militar nefasto desempenhando funções institucionais relevantes no Exército brasileiro.
E este episódio é revelador, também, que tanto o comandante da Força Terrestre, general Tomás Paiva, como o Alto Comando do Exército, não estão à altura da exigência de se depurar as Forças Armadas e se livrar de elementos que mancham a imagem da instituição, porque conspiram contra a democracia e, por isso, se confundem com milícias fardadas sustentadas com dinheiro público.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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