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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: Esse processo é uma piada

“O Crime é Meu”, nova comédia de François Ozon, é um divertimento ligeiro que veicula uma versão sardônica e amoral do empoderamento feminino

(Foto: Divulgação)

François Ozon tirou do baú uma peça de boulevard escrita nos anos 1930 pela dupla Georges Berr e Louis Verneuil. É a terceira versão cinematográfica do texto, depois das estadunidenses Confissão de Mulher (1937), de Wesley Ruggles, e A Mentirosa (1946), de John Berry. Em O Crime é Meu (Mon Crime), com senso de oportunismo, Ozon enfatizou os aspectos feministas da comédia, mas manteve a ação em 1935, quando as mulheres ainda não tinham direito ao voto. 

A atriz Madeleine Vernier (Nadia Tereszkiewicz) e a advogada Pauline Mauléon (Rebecca Marder) dividem um pequeno apartamento em Paris. As duas jovens são obscuras em suas profissões, não têm sorte no amor nem dinheiro para manter o aluguel em dia. A chance de redenção aparece quando Madeleine é acusada de ter matado um famoso produtor teatral. Instruída por Pauline, ela assume a culpa por legítima defesa e ganha celebridade durante o julgamento, do qual sai inocentada.

No tribunal ficam patentes o machismo da promotoria e os discursos emancipatórios da advogada de defesa. O sucesso de Madeleine estimula outras mulheres a matarem seus maridos ou amantes, numa versão sardônica e amoral do empoderamento feminino. 

Esse é o tipo de comédia que vai abrindo camadas à medida que novos personagens vão entrando na trama. Ozon não poupa estrelato nesse processo. Primeiro aparece o juiz caricato vivido com a verve habitual por Fabrice Lucchini. Depois um arquiteto (Dany Boon) que se beneficiou do assassinato. Em seguida, irrompe a cena Isabelle Huppert como uma excêntrica atriz vinda do cinema mudo, que vai alterar completamente o curso da história. Por fim, André Dussollier comparece para os acertos finais do quiproquó.

O ritmo é veloz e a ambientação não disfarça a origem teatral, inclusive pela conformação dos cenários propositadamente fakes. Inspirado pelos filmes de Sacha Guitry e Jean Renoir, Ozon deixa de lado qualquer intenção mais séria para surfar na ironia e no divertimento da comédia policial. O filme fez grande sucesso de público na França apesar de restrições da crítica à ligeireza do assunto e ao overacting de parte do elenco. 

>> O Crime é Meu está nos cinemas.

O trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=aZGl4_5Oouw

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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