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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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As heranças malditas deixadas para o Lula

'Uma herança muito pesada, que pretende impedir que o novo governo possa colocar em prática seu próprio programa', escreve o sociólogo Emir Sader

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A terceira eleição do Lula como presidente do Lula foi muito diferente, por vários aspectos. Quando foi eleito pela primeira vez, Lula sucedia a dois governos de FHC, eleito contra ele, em processos democráticos. Quando foi eleito pela segunda vez, Lula dava continuidade a seu próprio governo.

Desta vez Lula foi eleito presidente depois de um período conturbado da política brasileiro, que se iniciou com a ruptura da continuidade de três governos do PT, mediante um golpe, com o retorno, por 6 anos, da direita à presidência do país.

O país viveu retrocessos de todos os pontos de vista em relação ao que os governos do PT tinham feito. A direita se radicalizou de forma extrema. A repressão recaiu fortemente contra o PT, especialmente sobre o próprio Lula, que foi preso e impedido de ser candidato à presidência do Brasil.

Lula teve que enfrentar uma campanha eleitoral distinta das anteriores, para voltar a ser presidente do Brasil. Com destaque, antes de tudo, na recuperação da democracia no pais, além dos temas tradicionais do programa anti-neoliberal do PT.

O caráter sui generis do terceiro mandato não precisou esperar mais do que uma semana para se revelar, com os ataques terroristas de 8 de janeiro. Os adversários não se conformaram com a derrota eleitoral e buscaram reocupar o poder mediante as formas mais violentas que a história brasileira tinha conhecido.

Lula tinha assumido o governo uma semana antes, mas com heranças malditas. A primeira delas vinha do golpe contra Dilma, confirmando que se havia tratado realmente de um golpe: a imposição de um Banco Central supostamente independente, com o mandato do presidente imposto pelo governo direitista, que deve avançar por dois anos do mandato do Lula.

Uma herança muito pesada, que pretende impedir que o novo governo, eleito democraticamente pelo voto popular, possa colocar em prática seu próprio programa, escolhido pelo povo mediante as eleições. A expressão mais clara disso está na definição das taxas de juros mais altas, um obstáculo decisivo para impedir que a economia volte a crescer e torne possível a reversão das desigualdades sociais e regionais características do Brasil.

É a mais maldita das heranças, porque condena o país à recessão, pela ação deletéria de uma pessoa, nomeada pelo Bolsonaro para impedir que a economia volte a crescer e favorecer os interesses dos bancos privados. Que impede que a vontade democrática do povo se realize.

A outra herança maldita é a maioria de direita no Congresso, que bloqueia as iniciativas do governo. Não apenas se vê impedido de aprovar iniciativas essenciais para o governo, como faz com que o governo seja vítima de iniciativas da maioria conservador do Congresso.

As manifestações do dia 8 de janeiro revelam outra herança maldita: as forças terroristas nas polícias, nos setores militares e outros, que se constituem em ameaça permanente contra a democracia.

Lula não governa assim como o fez nas suas vitórias anteriores. É um governo bloqueado por essas heranças neoliberais. Lula tem que enfrentar esses obstáculos ao longo de todo o seu governo. A cada busca de investimentos, a cada busca de aprovação de algum projeto no Congresso.

Antes ainda dos primeiros 100 dias, Lula já teve que enfrentar vários desses obstáculos. Não se pode dizer que seu governo deslanchou como os anteriores. Tudo dependerá da capacidade do governo de contornar essas heranças malditas.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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