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Milton Alves

Jornalista e sociólogo

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A martelada ‘red pill’ e o neobolsonarismo malufista de Tarcísio de Freitas

O velho cacoete político do realizador, tocador de obras, já teve diversas versões no governo de São Paulo: Ademar de Barros, Paulo Maluf e Orestes Quércia

(Foto: Reprodução)

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O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) protagonizou uma cena grotesca, na última terça-feira (14), durante o encerramento do leilão do trecho norte do Rodoanel, empunhando um martelo bateu com força repetidas vezes no balcão da Bolsa de Valores do São Paulo. A cena viralizou nas redes sociais.

As marteladas furiosas do governador paulista, que derrubou o símbolo da B3, comemoravam o resultado do processo de concessão vencido pelo fundo de investimentos Via Appia, que vai conduzir a construção da obra de 44 quilômetros e administrar o trecho da rodovia por 31 anos.

A Via Appia é gerida pelo grupo empresarial Starboard, que não tem experiência com construção ou concessões de rodovias — o que gerou desconfianças e disputas judiciais durante o processo de leilão. Além disso, a Starboard administrou o setor elétrico do estado do Amapá, uma marca negativa na trajetória do grupo. O pequeno estado nortista sofreu constantes apagões durante a gestão da empresa.

Também chamou a atenção o curto espaço de tempo, menos de 90 dias, em que o governo do estado preparou o leilão. Há indicativos de que a Starboard possa estar atuando em parceria com o grupo Bertin, que, por estar em recuperação judicial, foi impedido de participar da disputa.

Para além da trajetória nebulosa da Starboard, o governador Tarcísio de Freitas, durante o evento na Bolsa de Valores, anunciou um amplo programa de privatizações e concessões do patrimônio público do povo paulista. Os alvos no plano de Tarcísio serão as empresas públicas, estradas, parques estaduais, terminais, a companhia de saneamento, a Sabesp, até o final de 2024.

O projeto privatizante de Tarcísio integra uma estratégia política em sintonia com a imagem do “tocador de obras”. Uma espécie de agenda malufista, baseada na realização de grandes obras de infraestrutura.

O velho cacoete político do realizador, tocador de obras, já teve diversas versões no governo de São Paulo: Ademar de Barros, nos anos 60, Paulo Maluf, durante a ditadura, e Orestes Quércia, nos meados dos anos 80.

Ao mesmo tempo, o governador de São Paulo busca assegurar o apoio da base bolsonarista tradicional. Nos últimos dias, Tarcísio já colocou em prática a execução dessa estratégia: ultraliberal na economia e nos temas dos costumes, segurança pública, na guerra cultural e ideológica segue marchando fechado com a extrema direita bolsonarista. Dois episódios confirmam a opção de Tarcísio: a prisão arbitrária do líder sem terra do Pontal do Paranapanema, José Rainha, e a mudança do nome de uma estação do metrô de Paulo Freire para o chefe bandeirante Fernão Dias.

Tarcísio, que foi ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro e diretor do Denit durante o governo da presidenta Dilma Rousseff, aposta na sua habilidade camaleônica para unir gregos e troianos — de bolsonaristas radicais, passando por liberais da velha direita e raposas centristas, como o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.

As marteladas exibidas na B3, com um acentuado toque “red pill”, são também o prenúncio de um duro combate do neobolsonarismo malufista contra o povo trabalhador paulista.

*É jornalista e colabora em diversas mídias progressistas e de esquerda. É o autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020), ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) e de ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país‘ (2022) — todos pela Kotter Editorial. É militante do Partido dos Trabalhadores (PT), em Curitiba.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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