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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A luta da memória contra o esquecimento

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A luta política é também a luta da verdade contra a mentira, a luta da memória contra o esquecimento. A disputa pela interpretação predominante numa sociedade passa pela visão da história, pela seleção do que é fundamental e da eliminação do que é considerado negativo.

Hoje no Brasil há uma disputa entre a memória e o esquecimento. A direita trata de apagar seu passado, tanto o golpe de 1964 e a ditadura militar de 21 anos, como o novo golpe, que interrompeu o governo da Dilma e fez o país retroceder por seis anos.

Trata também de apagar da memória das pessoas o que foram os governos do PT. Como foi o único momento em que o Brasil melhorou substancialmente, diminuindo a pobreza, a miséria, as desigualdades sociais e regionais. Como houve continuidade da democracia, o país passou a ter um prestígio internacional como nunca havia tido.

O cargo de presidente do Brasil passou a ser reconhecido, prestigiado, enquanto o Estado brasileiro se fortaleceu pelas políticas econômicas, de saúde, de educação, de tecnologia e de relações internacionais. 

Todos os grandes debates contemporâneos têm que ser feitos à luz dos momentos em que a esquerda governou o país e daqueles em que foi a direita que o fez. Foram momentos de desenvolvimento econômico ou de recessão. De melhoria das condições de vida da população ou de deterioração das condições em que vive o povo brasileiro.

Alega-se sempre que “o povo brasileiro não tem memória”. Mas quem recorda ao povo o que ele viveu? Quem trabalha, ativa ou passivamente, para que triunfe a memória ou o esquecimento? A mídia, essencialmente. A mesma mídia que proclama que “o povo brasileiro não tem memória”.

Os discursos dos políticos, dos governantes, os livros, os artigos multiplicados pela mídia, nos seus noticiários, nas análises dos seus articulistas, nos programas temáticos. Há uma enxurrada de ideias que naturalizam o atraso e as desigualdades no Brasil, a corrupção do Estado, das empresas estatais e dos políticos.

Recentemente, ao excluir empresas de utilidade pública da lista de empresas privatizáveis, imediatamente um articulista de plantão, especialista nos mesmos chavões ao longo do tempo, considerou que essas empresas diretamente continuavam a ser corruptíveis.

Não importa se os serviços prestados à população deixariam de ser submetidos aos lucros que produzem para seus proprietários privados. Essa lógica é desconhecida por jornalistas vinculados à lógica da acumulação privada e que desconhecem os serviços públicos e os direitos dos cidadãos.

As empresas estatais seriam, por definição, corruptíveis. Por oposição, a lógica das empresas privadas seria dinâmica, transparente. Sem nenhum tipo de análise concreta sobre a situação concreta das empresas públicas e as empresas privadas – cuja lógica, na verdade, é mercantil, é a busca de lucros.  

Fundamental o povo se recordar sempre o que foram os governos do PT. Como eles viviam melhor. A direita trata de apagar essas vivências na memória do povo. E como se os problemas que o Brasil vive hoje fossem resultado da falta de memória do povo, que volta a cometer os mesmos erros. O que nos condenaria ao eterno retorno aos mesmos pontos de partida.

Nunca diminuíram tanto as desigualdades – tanto sociais, como regionais -, no Brasil como durante os governos do PT. Bastou um golpe tirar o PT do governo, para que elas voltassem imediatamente. Por isso é preciso fazer com que as pessoas não se lembrassem disso.

A luta da memória contra o esquecimento é a luta da consciência contra a alienação. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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