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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A história vai falar de Lula

"Lula falou de fome, desigualdade e paz. Lula falou do que sente, entende e acredita. Lula parecia iluminado. E estava", resume Denise Assis

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

Quando os livros de história registrarem o nosso tempo, não falarão de mim ou de vocês. Falarão de nós e do nosso momento histórico. Falarão de seis anos de exceção, quando o Judiciário foi sequestrado por uma onda de fake news, por uma ação massiva de uma mídia que mirou os seus interesses e com isso tirou de cena o maior político surgido nos últimos anos.

No seu afã de calar Lula, porém, o que fez foi potencializar as suas qualidades, permitindo-lhe tempo - ironicamente no fundo da prisão -, para refletir e balancear o que fez, o que ficou por fazer e o que é a verdadeira vocação do seu país em relação ao mundo.

Seu retorno - e devemos isto ao agora ministro Cristiano Zanin e à sua mulher, Valeska -, nos proporcionou o enfrentamento ao fascismo, internamente, mas nos legou externamente uma nova visão de mundo, que Lula teve tempo, nos 580 dias em que esteve preso e isolado, desenhar.

Foi esse novo desenho, com a possibilidade de um mundo multipolar e menos desigual, que ele exibiu no fórum que discutia em Paris um novo pacto financeiro global e para o clima. 

Trazendo as cores do Brasil na gravata, o rubor da emoção nas bochechas e o calor do encontro em Roma, com o Papa, no coração, Lula abandonou protocolos, guardou no bolso o correto discurso preparado em conjunto com assessores e falou o que lhe ia na alma. 

Falou com a autoridade dos que conhecem a fome, das desigualdades e do abismo entre as atividades de países ricos e pobres. Exibiu as dimensões do seu país e do quanto nós, os países da África, Cuba e de quantos situados ao Sul do Equador, lutamos para nos mantermos à tona, num mundo em que o capitalismo dita as regras e o "mercado" é capaz de sugar bilhões e ordenar as regras monetárias avassaladoras, como fez nesta semana, o presidente do Banco Central.

Lula mostrou ao mundo a urgência da montagem de um modelo que sirva aos tempos atuais, em que a ONU volte a ser um organismo capaz de colaborar com o ordenamento da paz no mundo, com real autoridade para fazê-lo. Conclamou os chefes de Estado presentes a repensar as suas atitudes e objetivos. Alertou para a nocividade da pobreza para o planeta e o seu futuro. Abriu os olhos do mundo sobre o quanto atraso e clima são temas que caminham juntos para a degradação da humanidade.

Tocou com segurança numa necessária mudança da visão econômica do ganha, ganha, apontando que no final todos perderão. 

Mostrou a todos que os cinco milhões de quilômetros quadrados de Amazônia são do Brasil, mas servem ao mundo, que deve pagar por isto, ajudando a preservá-la.

Citou números do seu país, dos demais continentes e conclamou os seus homólogos a lutar pela paz. Não da maneira demagógica que se costuma falar do tema, mas falando ao que eles todos entendem de sobra: suas caixas registradoras.

Lula falou de fome, desigualdade e paz sem apelar para a demagogia nem sequer um minuto. Lula falou do que sente, entende e acredita. E quando as palavras são esculpidas com verdade, elas calam fundo em quem as ouvem. Lula parecia iluminado. E estava. Trazia dentro de si seu amor ao Brasil e sua genuína vontade de mudá-lo e colocá-lo na dimensão do cenário mundial. Que tenha sido ouvido. Principalmente pelo presidente do Banco Central. 

Lamentavelmente não estaremos no futuro dos livros de história para dizer do orgulho que sentimos ao sermos acordados hoje com as palavras do presidente Lula. Mas eles falarão do nosso tempo. Certamente contarão sobre Lula.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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