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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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A direita não tem outro Bolsonaro

Lula não deveria perder tempo e energia em combater Bolsonaro ou o bolsonarismo. A Justiça está dando conta

Jair Bolsonaro dando carona a Tarcísio de Freitas (Foto: Anderson Riedel/Divulgação)

Tal como a esquerda não tem outro Lula, a direita não tem outro Bolsonaro.

   Não adianta algum político conservador querer vestir o figurino do ex-presidente. Não cabe em ninguém. Ele foi, em décadas, o único político de direita explicitamente populista, capaz de galvanizar multidões com suas mentiras e ataques ao “sistema”, às instituições e, sobretudo, ao PT.

   Alguém consegue enxergar em Tarcísio um novo Bolsonaro? Ou em Zema? Para falar em dois nomes mais frequentemente citados como seus supostos herdeiros. Não têm discurso para empolgar multidões.

   Apesar de se dizerem bolsonaristas, eles não são Bolsonaro. Não têm a mesma coragem de se exibirem torpes, hostis, desumanos e cínicos. Dizem-se bolsonaristas na esperança de herdar seus eleitores. Mas não vão conseguir imitá-lo. É impossível.

   Os eleitores de Bolsonaro votaram no tucano Aécio Neves em 2014. Enxergaram no ex-capitão, em 2018, alguém mais “qualificado” para derrotar o PT, o que Aécio tentou, mas não conseguiu. Deu certo. Repetiram a aposta em 2022. Deu xabu.

   Agora que a perspectiva de poder de Bolsonaro é cada vez mais escassa, com tendência a ser nula, seus ex-eleitores irão, aos poucos, procurar outras opções presidenciais. Nada garante que vão seguir as indicações do agora inelegível. Poderão voltar a votar no PSDB, que deverá lançar Eduardo Leite em 2026. Poderão ser atraídos por Lula.

   Seus poucos aliados também vão abandoná-lo ao constatar que ele não passa de um estorvo. O casamento com Valdemar Costa Neto não vai durar. Seus correligionários não vão ficar esperando a volta de Bolsonaro ao poder. Talvez ele não volte nunca mais. Oito anos ao menos na oposição, à míngua, é algo que o PL não vai admitir. Aderir ao governo é uma questão de sobrevivência.

   O bolsonarismo vai desmoronar junto com Bolsonaro. Só existe com ele no poder. Não é um feixe de ideias que prescinde do líder. Ele radicalizou a pauta conservadora, acrescentando à receita o golpismo de estado. É evidente que, do jeito que a Justiça reagiu ao 8 de Janeiro, ficou claro que ninguém vai tentar derrubar um governo eleito pela força ao menos nos próximos trinta anos.

   Durante quatro anos, Bolsonaro tentou submeter à sua vontade, enfraquecer, humilhar ou aniquilar as principais instituições da República, o STF, o TSE, o TCU, as Forças Armadas, ultrapassando limites que presidente algum do regime democrático ultrapassou.

   Lula não deveria perder tempo e energia em combater Bolsonaro ou o bolsonarismo. A Justiça está dando conta. Bolsonaro se alimenta do antipetismo, mas o PT não pode cair na cilada de se alimentar do anti-bolsonarismo. O PT já era grande antes de Bolsonaro. Já tinha governado o país por 13 anos.

   Bolsonaro é um pesadelo que está passando. E, arrisco a dizer, não volta mais. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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