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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A crise da crise do lulismo

Quem fala mal e desconfia de Lula ganha espaço na mídia, é convidado para debates, tem espaços para escrever e é promovido em especialista em Lula e no PT

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

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Desde que nasceu, o lulismo foi diagnosticado como estando em crise ou mesmo em fase terminal. Assim que começou o primeiro governo do PT, foi apontado que ele fracassaria.

Mesmo depois dos governos de sucesso do PT, a tal ponto que foi eleito para quatro mandatos, essa onda não acabou. Ainda assim, em 2018 saiu um livro de um politólogo de plantão, com o título: “O lulismo em crise”. Pouco tempo antes do Lula voltar a ser eleito presidente do Brasil. Naquele mesmo momento, um articulista do Valor anunciava: “A última chance de Lula”. 

Em suma, a trajetória do Lula e do PT foi sempre acompanhada de previsões catastrofistas. Já nas suas primeiras eleições, Lula foi derrotado duas vezes por FHC nas disputas presidenciais, no primeiro turno. Lula era dado como um político fracassado, o PT como partido incapaz de derrotar o PSDB.

Como se o PT sempre estivesse em crise, colecionando derrotas. Como se seu projeto fosse inviável. Parece que o lulismo nasceu para viver em crise.  Critique Lula, fale mal dele, desconfie das suas palavras. Ganhará, com certeza, espaço na mídia, será convidado para debates, terá espaços para escrever, será promovido a especialista no Lula e no PT.

No entanto, não há, na história política brasileira, um sucesso tão grande, como o do Lula e do PT. Nem qualquer comparação com Getúlio e o getulismo, permitiria encontrar um sucesso tão grande.

É preciso recordar que o Lula recebeu o país como uma grave estagnação econômica, com uma inflação ascendente, com desemprego alto. Lula deixou o governo, depois de cumprir dois mandatos, com a oposição sistemática da mídia, mas com 76% de apoio.

A economia havia voltado a crescer, as desigualdades sociais e regionais diminuíam, assim como o desemprego. A tal ponto que o Lula elegeu a Dilma como sua sucessora que, por sua vez, conseguiu se reeleger. 

Ao longo de 14 anos, o Brasil teve um ciclo inédito de crescimento econômico, de diminuição da das desigualdades, de estabilidade política, de prestígio internacional. O lulismo conduzia esse processo, consolidando-se como a maior força política do país no século XXI, que teria continuidade, não fosse o golpe contra a Dilma.

Depois de condenado e preso, Lula voltou a ser eleito presidente, embora recebendo uma herança pesada para governar o Brasil. O desastre institucional produzido pelo governo anterior, além do clima de violência nos discursos da direita, foi acompanhado de um presidente do Banco Central neoliberal e de um Congresso com maioria conservadora.

O Lula é um enigma, que não é decifrado nem pela direita, nem pela ultra esquerda, que terminam devorados por esse enigma. Lula conseguiu decifrar que o neoliberalismo é o inimigo a derrotar e a superar. O sucesso do seu governo se deu pela sua capacidade de substituir a prioridade dos ajustes fiscais pela prioridade das políticas sociais, características dos governos do PT. De aumento dos empregos formais, de expansão das políticas de educação, de saúde, de assistência social. E as políticas complementares, como o bolsa família, o "Minha Casa, Minha Vida", entre outros, para os que não estão no mercado formal.

No seu conjunto, os governos do Lula, enfrentando a mídia como grande opositor, são acompanhados também pelos que insistem no tema da crise do lulismo. Uma crise que já entrou em crise.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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